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UMA VEZ QUE FUI CHAMADO DE BIBLIOTECÁRIO, acidentalmente me deparei com uma frase de efeito de Andre Maurois na Internet. O calor instantâneo que se espalhou me trouxe de volta as lembranças de quando fui chamado de bibliotecário por um ano inteiro. Ainda muito jovem, não podia me orgulhar da abundância de livros que havia lido. Inesperadamente, o emprego que me ofereceram como bibliotecária acabou por ser um portal para outro mundo. No recém-organizado centro de cultura e educação da empresa, fui incumbido de comprar os livros “necessários a toda biblioteca decente” e de organizar o grande processo de civilização das massas. Eu não tinha a síndrome do excelente aluno, mas parecia-me que tinha consciência. Eu sinceramente acreditava que um verdadeiro bibliotecário deveria conhecer todas as obras. No mínimo, do que se trata? Para não ter vergonha diante das massas culturais e da comissão sindical, que destinou uma boa quantia, resolvi seguir o conselho de uma bibliotecária escolar que conhecia e comprei “grandes clássicos russos mais usados” e “um pouco estrangeiros literatura." Muitos homens vieram até mim, uma beleza jovem e sorridente, principalmente um de cada vez. Nem os clássicos russos nem estrangeiros lhes interessavam. Eles me perguntaram sobre histórias de detetive populares e o que faço depois do trabalho. As massas estavam insatisfeitas com a variedade cultural e com meus planos para a noite, embora alguns, por uma questão de decência e desculpa, ainda levassem livros “para ler”. A biblioteca começou a cheirar a pó de livro e a culpa e a melancolia tomaram conta da minha alma. Com excesso de energia e tempo livre de trabalho, não tive escolha a não ser ler pelo menos 7 horas todos os dias. Confesso que nunca mais tive tanto luxo). Hugo, Mine, Maurois, Stendhal, Byron, Dumas, Maupassant, Dreiser, Selinger... Quanto mais eu lia, mais interessante ficava. E então o “nosso” foi. O que parecia completamente chato na escola acabou virando charme e admiração. Gogol me deixou louco. Chekhov me deixou histérico. Pushkin me fez apaixonar por ele para sempre.. Então eu ainda não entendia todas as mudanças que estavam acontecendo comigo e em mim. Fiquei triste e com raiva porque meu círculo íntimo estava mudando e parecia-me que estava infeliz. Fiquei viciado em livros. Os favoritos foram guardados nas prateleiras mais convenientes. Silenciosamente e pacientemente, eles aguardaram meu novo pedido. Indo para o trabalho, eu já sabia qual dos autores era mais importante para mim hoje, com qual deles eu queria ficar em silêncio, para quais perguntas buscava resposta. Senti a energia deles, estava familiarizado com o caráter de cada um. Senti sua inclusão em minhas experiências. E o diálogo interno com o livro sempre esteve vivo. E em tudo isso havia muita simpatia por mim. Ficou mais fácil para mim entender meus gostos e formar desejos. Naquela época, eu ainda não percebia que, dia após dia, minhas experiências, conhecimentos, valores e visões de mundo estavam sendo transformados em algo holístico. Gradualmente, comecei a confiar em mim mesmo. O tempo passou. Agora já sei o que tem por trás da portinha, do tamanho de uma folha de livro. E quando tenho dúvidas para mim ou para o mundo, abro o livro: - Olá. Sou eu. © Irina Müller

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